sexta-feira, 4 de março de 2011


Não basta ser mulher

Marisa Serrano*


O Dia Internacional da Mulher é uma data para avaliações e reflexões. Para além da questão de valorização do gênero, trata-se de um momento importante não somente para se fazer homenagens, mas também para discutir a condição feminina, de maneira aberta e propositiva, no Brasil e no mundo.
Tornou-se uma verdade incontestável que o fator fundamental para que as mulheres estejam ampliando seus espaços é o aprimoramento da democracia. Países autoritários e ditatoriais, como se sabe, restringem as ações que possibilitam o debate em torno do papel da mulher e de sua participação nas decisões que influenciam a cidadania.
À medida  em que se aprofundam  as noções gerais de liberdade e do Estado Democrático de Direito as mulheres vão estabelecendo novos padrões de valores para que sua inserção adquira relevância determinante em todos os aspectos do cotidiano.
O Brasil é um exemplo clássico de evolução da luta das mulheres ao longo do tempo. Numa análise geral, esse processo vem adquirindo uma força simbólica expressiva, principalmente após as últimas eleições presidenciais, embora saibamos que distorções de ordem sócio-econômicas ainda permaneçam na base da maioria dos problemas que atingem as mulheres brasileiras.
Não podemos nos esquecer que ainda precisam ser superados  problemas como a violência doméstica, as diferenciações salariais e o preconceito. Por isso, há que se manter forte o simbolismo que envolve a luta das mulheres por mudanças estruturais, estabelecendo políticas de auto-afirmação que garantam uma sincronia mais ajustada entre o discurso e a prática.
A luta das mulheres não pode ser estática. Ela deve ter uma dinâmica de reciclagem permanente. Nossa agenda tem que ser atualizada permanentemente. Não se pode desconsiderar o fato de que com a chegada de uma mulher na presidência da República os padrões de responsabilidade social permaneçam os mesmos. A partir de agora, ser mulher simplesmente não bastará. Será fundamental fazer a diferença, mostrando que a participação feminina, nos mais variados ramos de atividade, transcende a mera questão de gênero.
Acredito que esse será um passo à frente. A mulher atual tem que entrar em sintonia com as rápidas mudanças que estão ocorrendo no mundo contemporâneo e criar condições para que suas lutas centrais avancem, sem ranço ou arrogância, de maneira fraterna e generosa.
O mote que estou lançando por ocasião do Dia Internacional da Mulher - “Não basta ser mulher. O importante é fazer a diferença” – tem o claro objetivo de propor uma reflexão assertiva sobre o novo papel das mulheres a partir do atual momento histórico, em que se consolida amplamente a importância das nossas lutas, pelo menos em termos de imagem e simbolismos.
Temos agora um trabalho importante a realizar. Mostrar que em cada nicho da vida econômica, social e cultural, nossa participação ultrapassa o fator numérico, passando valer a qualidade de nossa visão específica da vida e das relações humanas. O jeito feminino de fazer as coisas (com tudo que isso representa em termos sócio-culturais) deve ser a tônica a prevalecer que resulte no fortalecimento dos laços sociais, criando um sentimento geral de que podemos ser não só consumidoras como também, e acima de tudo, cidadãs.

*Senadora (MS), vice-presidente do PSDB e vice-presidente da Comissão de Educação do Senado

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